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Os desafios e a responsabilidade do setor energético

Os desafios e a responsabilidade do setor energético

Os desafios são muitos e a responsabilidade imensa. Os incumbentes do atual sistema de energia trabalham para determinar os riscos que a transição energética aporta aos seus negócios atuais, formular uma estratégia para prosperar num setor de energia remodelado e economia global e avaliar a velocidade ideal para implementar os seus planos de mudança.

As últimas duas décadas contemplam os anos mais quentes alguma vez registados. Os fenómenos climáticos estão a tornar-se cada vez mais extremos, com cheias, secas, incêndios, tempestades ou a elevação do nível do mar a ameaçar as mais diferentes geografias. Além disso, os especialistas admitem que as mudanças climáticas alavancam múltiplos tipos de doenças. A mudança climática é antropogénica, sendo a principal causa atribuída à crescente queima de combustíveis fósseis para suprir a crescente necessidade de energia.

A descarbonização do setor energético tem sido objeto de pesquisa há vários anos, ganhando recentemente uma atenção crescente. É comumente reconhecido que a maneira mais óbvia de alcançar a descarbonização é o uso de energias renováveis (ER). Portanto, muitos países já utilizam uma parcela cada vez maior dos seus recursos renováveis, como energia eólica, solar, geotérmica ou hídrica para gerar eletricidade. Aliás, alguns países já alcançaram percentagens muito altas de ER para gerar eletricidade devido à energia hidrelétrica, como Paraguai (99%), Noruega (97%) e Costa Rica (93%). Em 2019, por exemplo, a China e os EUA tiveram a maior capacidade instalada de energia eólica e solar fotovoltaica em todo o mundo em 2019, segundo a International Renewable Energy Agency (IRENA).

No entanto, os especialistas advogam que a descarbonização do setor de energia envolve vários desafios e as interdependências entre os transportadores de energia secundária e os setores de energia de uso final não devem ser subestimados. Até porque, como defende Jan Ingwersen, diretor-geral da ENTSOG – Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Gás, “um sistema é mais do que a soma das suas partes e esse é certamente o caso quando se trata do sistema energético europeu”. Para este responsável, uma abordagem coordenada pode resultar num sistema de energia mais forte, aproveitando os pontos fortes dos transportadores de gás e eletricidade. “A combinação dos nossos esforços permitirá uma melhor eficiência e fiabilidade, facilitará o cumprimento dos compromissos do Green Deal da UE e abordará o plano de recuperação pós-Covid-19 para uma economia verde”.

Cenário em mudança

À medida que o debate se aprofunda sobre como os sistemas de gás e eletricidade, em particular, podem ajudar a UE a cumprir as suas metas climáticas e energéticas para 2030 e 2050, a ENTSOG reconhece o cenário em mudança do mercado energético europeu e, consequentemente, as necessidades de uma infraestrutura em constante mudança para transportar volumes crescentes de gases renováveis, descarbonizados e de baixo carbono, como hidrogénio e biometano.

No ‘Roteiro de 2050 para Redes de Gás‘ da European Network of Transmission System Operators for Gas (ENTSOG) – publicado em dezembro de 2019 –, os operadores europeus de sistemas de transporte de gás (TSO) fazem uma série de recomendações sobre como combinar mercados de gás liquefeito em bom funcionamento e segurança com o compromisso para atingir as metas de descarbonização.

Uma das recomendações aborda especificamente os princípios para o acoplamento setorial – ou seja, permitir flexibilidade, opções de armazenamento, capacidades de transporte transfronteiriço e segurança de abastecimento de forma mais rápida e eficiente, ao mesmo tempo em que as metas de descarbonização são cumpridas.

Jan Ingwersen sugere que, para uma descarbonização rentável, é essencial uma interação coordenada e coerente entre eletricidade e gás. “Devido à intermitência das energias renováveis, o setor elétrico precisará de gases descarbonizados para garantir a segurança do abastecimento e alcançar a neutralidade climática”. A conversão de eletricidade em gás, do inglês Power-to-Gas, por exemplo, permite, segundo a ENTSOG, que o fornecimento de energia renovável na forma de hidrogénio seja transportado através de redes de gás para setores de difícil eletrificação. “Essa tecnologia pode ajudar a aliviar o congestionamento local/regional na infraestrutura de eletricidade, evitando a redução da eletricidade renovável não despachável. Contribuiria, assim, para resolver os desafios em relação ao equilíbrio da rede elétrica – armazenamento e flexibilidade”. Assim, dizem os especialistas, hoje, o desafio não está nas tecnologias individuais – que já estão preparadas e com provas dadas -, nas na necessidade de estas serem massivamente escaladas para conseguirem obter um interessante custo-benefício. “Acreditamos que é possível realizar sinergias entre as infraestruturas de gás e eletricidade existentes e as tecnologias em evolução”, comentou Jan Ingwersen.

Camadas de complexidade

O objetivo final da transição energética é claro: a descarbonização do sistema energético global a fim de atingir zero emissões líquidas e um aumento da temperatura global de não mais de 1,5o C até o final do século. E parece consensual que a substituição definitiva de hidrocarbonetos por energia renovável e outras formas de energia descarbonizada será fundamental para este processo. No entanto, James Henderson, diretor de pesquisa de transição energética no Oxford Institute for Energy Studies (OIES), relembra a importância de reconhecer que a transição é, como a própria palavra sugere, um processo de mover-se de um estado para outro. “E, para ser bem sucedido, deve envolver o declínio controlado do sistema energético existente, bem como a sua transformação para um estado futuro”. Assim, diz o autor num documento publicado por aquela instituição, a tecnologia é a chave para acelerar o processo, mas muitas questões complexas ainda precisam ser resolvidas se o mundo quiser evitar que a transição se torne um processo desordenado.

Questões como diferenças regionais em termos de fatores económicos e mix energético, a reação à transição energética de grupos heterogéneos de consumidores e as consequências geopolíticas de redesenhar o mapa energético são levantadas neste documento. Por outro lado, o autor fala no ritmo de mudança tecnológica, na redefinição, reforma ou substituição de infraestrutura, no impacto das forças de mercado e na necessidade de as empresas adaptarem radicalmente os seus modelos de negócios para se alinharem tanto com as metas e regulamentos das políticas governamentais quanto com as preferências do consumidor. Tudo isto apelida de “camadas de complexidade”, que são ainda agravadas pelo facto de estarem envolvidos diferentes países e múltiplos setores da economia. “Tendo em conta estas questões, e a incerteza sobre o ritmo de mudança alcançável, os incumbentes do atual sistema de energia enfrentam vários desafios  para determinar os riscos para os seus negócios atuais, formular uma estratégia para prosperar num setor de energia remodelado e economia global e avaliar a velocidade ideal para implementar os seus planos de mudança”. Ou seja, o que não faltam ao setor são desafios.

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