O que saber antes de comprar um automóvel elétrico
Design, preço, tipo de motorização (se a diesel ou a gasóleo), potência e os respetivos consumos eram as características que, durante décadas, serviam de linha orientadora na hora de adquirir um novo automóvel. Os veículos elétricos e os híbridos plug-in vieram acrescentar outras “preocupações”.
A autonomia é (e continuará a ser) um fator de avaliação antes de adquirir um veículo elétrico, mas há muito que deixou de ser um problema. Porquê? Porque a rede de carregamento pública melhorou consideravelmente; porque os construtores deram passos de gigante nos últimos anos, fazendo com que a autonomia tenha crescido para valores que, há alguns anos, pareciam impensáveis; porque os estudos mostram que fazemos menos quilómetros do que aqueles julgamos fazer — em média, cerca de 30 por dia. Tendo em conta a autonomia dos modelos existentes no mercado, a maioria dos condutores poderia andar a semana toda apenas com um carregamento!
Onde carregar?
O ideal é poder carregar a bateria em casa. Porquê? Porque é mais barato, sobretudo à noite. Quer isto dizer que quem não tem garagem não deve ter um veículo elétrico? Nada disso. Com o crescimento da rede pública cresceram também as possibilidades de carregamento para quem não o pode fazer no domicílio. O segredo está em analisar ao pormenor a rede de carregamento pública (www.mobie.pt/mobidata/data), de forma a perceber quais os postos existentes junto a casa, trabalho e locais que costuma frequentar com assiduidade. Deixar o carro a carregar enquanto se janta fora ou vai ao cinema é um ato cada vez mais banal. Basta um pouco de planeamento… extra.
Wallbox, sim ou não?
Instalar uma wallbox não é obrigatório, mas pode fazer a diferença. A maioria dos modelos traz de origem um cabo para carregar a bateria numa tomada convencional, bastando por isso ligar à tomada para carregar. Simples, mas demasiado lento. Ao utilizar a corrente alterna (AC), o tipo de corrente existente numa habitação convencional, a velocidade de carregamento é muito baixa, tornando os carregamentos quase infindáveis, em muitos casos superiores a dois dias. Quanto mais potente for a bateria, maior é a autonomia, mas mais tempo demora a carregar. A aquisição de um carregador portátil pode ser uma solução intermédia — aumenta a velocidade de carregamento sem necessidade de alterações na instalação elétrica — se bem que a solução mais prática e rentável, a médio e longo prazo, seja a wallbox. Em português significa “caixa na parede”. É mais rápido — pode ser quase dez vezes mais rápido do que a tomada doméstica —, mais cómodo e mais seguro. Tal como há vários modelos automóveis, também há diferentes tipos de wallbox (podem chegar até 22 kW) e diferentes tipos de preços, que podem rondar os mil euros. Caro? Quem não quiser ou puder comprar, também pode alugar, se bem que são muitas as marcas que oferecem este equipamento de série. Além disso, o Estado agora também comparticipa na instalação dos carregadores, através do Fundo Ambiental. Os modelos mais comercializados são os de 7,4 kW (até porque basta ter uma ligação monofásica), dando a possibilidade de a corrente ser configurada até 32 amperes. Suficiente para carregar a totalidade da bateria durante a noite.
Carregamento “AC” e “DC”. O que significa?
“AC” significa corrente alternada, aquela que temos em nossas casas. “DC” significa corrente contínua, aquela que é utilizada nos postos de carregamento rápidos. Mas mesmo que o proprietário do veículo não faça qualquer ideia do que significam estes termos, não terá qualquer implicação na sua utilização. São “apenas” questões técnicas. As baterias de um veículo elétrico armazenam corrente contínua (DC), quer isto dizer que quando carregamos em casa esta precisa de ser convertida. E é. Não por quem carrega, mas por um carregador interno no próprio veículo, que faz essa conversão, sendo depois transmitida à bateria. No caso dos carregadores da rede pública não há qualquer necessidade de conversão, daí o processo ser mais rápido.
Rede pública, como funciona o carregamento
Carregar a bateria de um veículo elétrico na rede de carregamento pública (www.mobie.pt/) é cada vez mais simples. Mas não basta chegar e ligar a tomada, como nos postos de abastecimento tradicionais. É preciso ter um contrato com um dos comercializadores de eletricidade para a mobilidade (CEME) e o respetivo cartão. Cartão esse que, independentemente do comercializador, dá acesso a todos os postos de abastecimento que compõem a rede, sendo os montantes debitados na conta a que tiver associado no contrato. Como em qualquer área, convém analisar e comparar antes de escolher.
Experiência digital
Ter um veículo elétrico é toda uma forma de vida. E uma experiência. Uma experiência cada vez mais digital, sendo várias as aplicações que facilitam a vida aos utilizadores, disponibilizando um sem-número de informações práticas de apoio à viagem e, neste caso, ao carregamento. Saber qual o número e localização dos postos disponíveis, a potência, o preço, é tão rápido quanto intuitivo. A portuguesa Miio (www.miio.pt) tonou-se na aplicação número um no País e permite mesmo fazer o carregamento na rede pública de forma 100% digital, deixando assim de ser necessário recorrer a um cartão físico.
Mas o cartão físico não caiu em desuso. Por exemplo, a Galp estreou um cartão híbrido para pagamento de combustível e carregamentos elétricos. O novo cartão Galp Frota Corporate dá acesso à maior rede de postos de combustíveis da Península Ibérica, assim como aos pontos de carregamento elétrico da rede Mobi.E em Portugal.
Diferentes potências
Os postos de carregamento não são todos iguais. Há os postos de carregamento normais (PCN), Postos de Carregamento Rápido (PCR) e Postos de Carregamento Ultrarrápido (PCUR). A potência mais comum num PCN é de 22 kWh de potência. São pontos de carregamento ideais para períodos de permanência de média e longa duração. Para carregar 100 km de autonomia, o tempo de carga poderá variar entre uma e quatro horas. Já os Postos de Carregamento Rápido (PCR) permitem o carregamento de um veículo elétrico acima dos 22 kW. A título comparativo, refira-se que um carregamento rápido de 50 kWh permite carregar 100 km de autonomia num período compreendido entre 15 e 20 minutos. Nos últimos meses tem crescido o número de postos de carregadores ultrarrápidos, com potências que variam entre os 150 kWh e os 360 kWh. Muitos destes carregadores tendem a ser colocados em estações de serviço, para que os tempos de carregamento de um veículo elétrico se aproximem do abastecimento de um veículo a combustão. Isto é, conseguir carregar 80% ou mesmo a totalidade da bateria em cinco ou dez minutos.