Europa fica bem na fotografia da e-mobilidade
A Noruega é o país que mais rapidamente está a abraçar a mobilidade elétrica, sobretudo devido a uma política de incentivos fiscais que dura já há uma década. No entanto, os restantes países europeus não ficam nada mal no mapa dos mercados que se comprometem a eletrificar os seus transportes, garante Philippe Vangeel, secretário-geral da European Association for Electromobility.
A Europa está a portar-se particularmente bem no capítulo da mobilidade elétrica, garante Philippe Vangeel, secretário-geral da European Association for Electromobility (AVERE), baseando-se em dados do Observatório Europeu dos Combustíveis Alternativos. O comportamento não é igual em todos os países, é certo, com as geografias mais a ocidente a terem uma adoção mais satisfatória. No entanto, Philippe Vangeel admitiu nesta conferência que a Europa está a avançar mais rapidamente na eletrificação dos transportes do que as previsões feitas há cinco anos por agências como a Bloomberg.
A razão pela qual a generalização da mobilidade elétrica ainda não aconteceu, no entender do secretário-geral, não se prende com questões tecnológicas. Do lado da indústria, “a tecnologia existe, sabemos como as infraestruturas têm de ser, como devem ser lançadas e hoje os veículos já têm autonomia para muitos mais quilómetros do que há dez anos. Tudo está no seu lugar”. Assim, a questão parece estar do lado dos responsáveis políticos que têm de definir a velocidade a que a mudança para a e-mobilidade vai ocorrer. “Este é um sinal muito importante. Quando definirem essa velocidade, a indústria pode adaptar as suas linhas de produção. Precisamos que os responsáveis políticos, quer ao nível regional, nacional e europeu, estabeleçam qual o caminho a seguir.”
Em 2035, só serão vendidos veículos elétricos
Curiosamente, no próprio dia da conferência, o Parlamento Europeu aprovava uma proposta da Comissão que proíbe a venda de novos veículos com motor de combustão a partir de 2035, na prática só permitindo a venda de veículos novos elétricos. O texto adotado inclui os objetivos intermédios propostos pela Comissão Europeia: uma redução de 15% nas emissões de automóveis até 2025 e uma redução de 55% até 2030. Convém relembrar que o transporte é um dos maiores emissores de CO2 na UE, sendo os automóveis, só por si, responsáveis por 12% do total de emissões de gases com efeito de estufa. “Claro que estamos a falar a um nível europeu mas convém não esquecer que isto já está a acontecer ao nível regional”, salientou Philippe Vangeel.
O país que tem registado maiores progressos na adoção da e-mobilidade é a Noruega, que em 2025 já só comercializará veículos elétricos, um comportamento que segundo este responsável foi, uma vez mais, conseguido devido aos decisores políticos, nomeadamente através da criação, há dez anos, de fortes incentivos fiscais, nomeadamente a eliminação de 25% de IVA, mas também a abolição do pagamento de portagens ou mesmo estacionamento gratuito. “Isto fez com que as pessoas realmente ponderassem a compra de um veículo elétrico”.
A oferta já está ajustada
Para Philippe Vangeel, a oferta de veículos elétricos já está preparada para a nova realidade dos consumidores, havendo neste momento cerca de 150 opções. “Os construtores tradicionais estão a fazer a sua transição para além de estarem a entrar no mercado novos ‘players’ que estão altamente comprometidos com a mobilidade elétrica. Não só vindos dos Estados Unidos, mas mesmo da China”. Algo que pode ser visto como positivo, porque aumenta a oferta e logo reduz o preço dos veículos, mas também cria uma maior concorrência aos construtores europeus.
Falando claramente da Tesla, e comentando o sucesso desta marca face a construtores europeus, Vangeel diz que a empresa de Elon Musk criou de raiz um veículo para suportar uma bateria, enquanto os fabricantes clássicos tiverem de adaptar a sua produção. “Quando colocamos uma bateria num modelo já existente não é o mesmo. Por isso, as marcas tiveram de construir uma plataforma complemente diferente, tiveram de reconstruir os veículos”.
Consumidores terão tempo para se adaptar
Será que a gasolina e o gasóleo vão ser banidos? Vão os objetivos dos responsáveis políticos ser antecipados? Para Philippe Vangeel, tudo isto já está a acontecer. “Já não é qualquer carro que pode entrar em cidades como Londres, Paris ou Amesterdão. Mesmo em Bruxelas, numa menor escala, existem zonas de baixa emissão ou emissão zero. E estão a crescer progressivamente”.
O responsável acredita que esta obrigação não põe em causa os ‘direitos’ do consumidor de aceder às cidades, já que este está a ter tempo para se adaptar e fazer a sua transição. “A pandemia teve muitos aspetos negativos. Mas também vimos o impacto na qualidade do ar ao não haver carros nas cidades e mesmo o silêncio, algo que um veículo elétrico pode proporcionar. O compromisso das pessoas está a aumentar”.
Philippe Vangeel salientou ainda que substituir todos os veículos a combustão por elétricos não é a solução. “É apenas uma parte da solução”, disse no evento. “Temos de mudar a nossa forma de encarar os transportes. Ir do ponto A ao B não quer dizer que se tenha de ir de carro. Pode ser uma mistura de soluções, desde partilha de veículos a transportes públicos”.