Está decidido, está decidido. Mas a discussão continua
Os 27 Estados-membros da União Europeia aprovaram um plano que impede a venda de novos veículos movidos a gasóleo ou a gasolina a partir de 2035. A ACAP diz que é prematuro e que muita coisa pode mudar, entretanto, a nível dos biocombustíveis avançados e combustíveis neutros.
Prematuro, eis a expressão mais vezes utilizada por Helder Pedro, na sequência da votação levada a cabo no Conselho Europeu, que impede a venda de novos veículos movidos a gasóleo ou a gasolina nos respetivos Estados-membros a partir de 2035. O secretário-geral da ACAP — Associação Automóvel de Portugal — garante que a indústria automóvel “é parte da solução e está empenhada em cumprir as metas que levarão à descarbonização total até 2050”, mas acredita que é demasiado cedo para estabelecer essa meta, defendendo que deveria ser feito um estudo do impacto socioeconómico da medida em 2028. “Propusemos 2028, como poderia ser 2029, a questão é que não faz sentido estar a estabelecer estas metas definitivas a uma distância tão grande”, avança. As razões são simples: não só duvidam de que o impacto socioeconómico e a dependência da União Europeia das matérias-primas tenham sido totalmente ponderados, mas também a velocidade a que se estão a desenvolver soluções a nível de combustíveis alternativos, mais ecológicos. “Quando falamos de veículos com emissões zero não têm de ser necessariamente elétricos. Se houver a descarbonização dos combustíveis líquidos é possível ter motores de combustão com emissões zero”, avança, garantindo que a Comissão, com a pressa de legislar, “não acautelou esses pontos”.
Ainda assim, a única concessão foi, precisamente, nesta área. A pedido de alguns países, a União Europeia admitiu que, no futuro, poderá vir a dar “luz verde” para tecnologias alternativas como combustíveis sintéticos, caso se prove que estes consigam reduzir a zero as emissões de gases com efeito de estufa dos veículos. Uma medida apoiada pela ACAP. “Isto está tudo em evolução, por isso é que achamos que se deveria esperar até 2028 para legislar, porque até lá poderá aparecer outro tipo de soluções que hoje ainda não estão em cima da mesa. Estar em 2022 com uma meta tão definida não é uma boa política”, conclui, garantindo também que, pelo que tem conhecimento, as empresas dessa área estão muito empenhadas nessa pesquisa de soluções alternativas.
A Galp, por exemplo, tem em desenvolvimento diversos projetos a esse nível. Entre eles a produção de biocombustíveis avançados e combustíveis neutros em carbono à base de hidrogénio verde, no âmbito do projeto de transformação da refinaria de Sines num Green Energy Park. Combustíveis também conhecidos como e-fuels, ou combustíveis sintéticos, e que têm características semelhantes aos combustíveis que hoje usamos, permitindo, contudo, reduzir as emissões dos motores de combustão interna atuais e assim constituir uma alternativa à eletrificação.