A mobilidade e as alterações climáticas
O atual sistema de mobilidade e transportes é responsável por uma grande fatia dos gases com efeito de estufa e, consequentemente, pelas alterações climáticas. A mobilidade sustentável é o (único) caminho para mudar de paradigma.
51 mil milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa, eis o número que, todos os anos, enviamos para a atmosfera. Para quem não tem qualquer conhecimento técnico nem científico, torna-se difícil quantificar a real dimensão destes dados. Mas é relativamente fácil perceber o seu impacto na saúde do planeta. Aumento da temperatura e do nível da água do mar, degelo dos glaciares, maior possibilidade de furacões, inundações ou incêndios são “apenas” algumas das causas diretas. A diminuição da biodiversidade é outra das consequências. Segundo o mais recente relatório da World Wide Fund for Nature (WWF), referente ao ano de 2020, 68% das populações de animais selvagens estão em declínio.
São muitos os setores responsáveis por esta realidade — somos todos responsáveis, em última instância —, não se pode, contudo, ignorar o impacto que a atividade industrial tem tido no planeta, da indústria petrolífera à indústria alimentar, passando pelo setor têxtil. Tome-se, como exemplo, a produção de uma simples T-shirt de algodão, para a qual são necessários cerca de 2700 litros de água, o equivalente ao que um adulto bebe durante dois anos e meio. A área da mobilidade (na qual se incluem os transportes) não foge a esta tendência, bem pelo contrário, sendo responsável por mais de um terço das emissões de CO2. Destes, mais de 70% são oriundos de automóveis, carrinhas, camiões e autocarros — bem acima do transporte marítimo e da aviação, que representam quotas de 14% e 13%.
Dados avançados pela Agência Europeia do Ambiente — órgão sob a administração da União Europeia (UE) —, que mostra particular preocupação com este setor rumo à difícil tarefa de tornar os 27 países-membros livres de carbono até 2050. “Os transportes consomem um terço de toda a energia final na UE. A maior parte dessa energia provém do petróleo. Isto significa que os transportes são responsáveis por uma grande parte das emissões de gases com efeito de estufa da UE e contribuem significativamente para as alterações climáticas.” Os poluentes atmosféricos como a matéria particulada e o dióxido de azoto (NO2) estão, segundo a agência, entre os males maiores. “Embora a poluição atmosférica causada pelos transportes tenha diminuído na última década, devido à introdução de normas de qualidade dos combustíveis, às normas Euro relativas às emissões dos veículos e à utilização de tecnologias mais limpas, as concentrações de poluentes atmosféricos continuam a ser demasiado elevadas.” A solução, garantem, passa por um sistema de transportes públicos mais eficiente, transição para modos de transporte com baixas emissões de carbono e veículos com emissões zero, um papel central da eletrificação e das fontes de energia renováveis, melhorias a nível da eficiência operacional e um melhor planeamento urbano. A mobilidade… sustentável.
Portugal será, naturalmente, um dos países abrangidos pelas metas europeias, tendo o seu próprio Roteiro para a Neutralidade Carbónica — RNC2050. Uma das alterações do novo Governo, que tomou posse em março de 2022, foi a criação da Secretaria de Estado da Mobilidade Urbana — em substituição da Secretaria de Estado da Mobilidade —, parte integrante do Ministério do Ambiente e Ação Climática. Para o bem e para o mal, a ligação entre a mobilidade e o clima é incontornável.