Europa de cabeça erguida face a crise energética
Os vários compromissos, medidas e metas impostas pela União Europeia ao setor energético têm surtido efeito, garante Kadri Simson, comissária europeia da Energia, garantindo à Europa a sua cada vez maior independência e foco no objetivo final: atingir a neutralidade carbónica até 2050.
A invasão da Ucrânia pela Rússia teve, e continua a ter, múltiplas consequências. Para além do sofrimento humano, a Europa vê-se agora envolta numa crise que acabou por redesenhar o sistema energético, comentou Kadri Simson, comissária europeia da Energia no Galp Electric Summit – Energy Conference, organizado pelo Jornal de Negócios em parceria com a Galp, a Toyota, o Montepio Crédito e o município de Oeiras. No evento, a antiga ministra da Economia e Infraestruturas da Estónia relembrou a importância do Pacto Ecológico Europeu, o famoso Green Deal, e o seu papel em transformar a Europa numa economia moderna e competitiva, tendo subjacente o objetivo da neutralidade carbónica até 2050. “Começámos a fazer a transição da era do petróleo e do gás para a era das renováveis. As nossas metas são ambiciosas e a crise do ano passado criou um contexto acelerador”, disse.
A comissária europeia da Energia congratulou-se pelo facto de a Europa ter resistido ao aumento descontrolado dos preços, que afetaram não só a indústria como os consumidores finais: “Saímos de cabeça erguida e ainda mais unidos.”
O compromisso com o REPowerEU
Kadri Simson assegurou ainda o compromisso com o REPowerEU, um plano da Comissão Europeia para tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, em resposta à crise energética gerada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e acelerar a transição para energias limpas. “A Europa é uma referência energética mundial”, frisou.
Este plano, a par de outras medidas “de emergência”, surtiu o efeito desejado, com o gás russo a representar, desde setembro de 2022, cerca de 8% do volume importado pela União Europeia (UE). Hoje, o principal fornecedor é a Noruega. Aliás, segundo dados fornecidos pela comissária europeia, o consumo de gás terá reduzido cerca de 19% entre agosto e janeiro de 2023, “o que nos ajudou a poupar 42 mil milhões de metros cúbicos de gás”. A comissária europeia da Energia relembrou a intenção em prolongar por um ano a meta voluntária de redução de 15% de procura e consumo de gás pelos Estados-membros, que terminava já em abril.
Mas Kadri Simson não esquece que a meta é a utilização das renováveis. “O objetivo da REPowerEU não é substituir uma fonte não confiável de gás por outra fonte, confiável, de gás natural. O objetivo é tornar a Europa energeticamente livre.”
Os Estados-membros da União Europeia e o Parlamento Europeu concordaram, no final de março, com uma meta de 42,5% de energias renováveis no consumo europeu de energia até 2030, quase dobrando o nível atual de 22%.
Na energia solar, o ano de 2022 bateu recordes. A União Europeia aumentou a sua capacidade instalada para 41,4 gigawatts de energia fotovoltaica, um incremento de 47% face aos 27 gigawatts do ano anterior. Uma prestação que Kadri Simon espera que a UE supere nos próximos anos: 50 gigawatts já em 2023 e 85 gigawatts em 2026.
Na vertente eólica, cerca de 15 gigawatts foram instalados no ano passado, onshore e offshore, mais 34% do que em 2021.
Portugal na frente da Europa
Na sua intervenção, Kadri Simson enfatizou a posição de Portugal como um dos Estados-membros com maior percentagem de renováveis no consumo final de energia e um exemplo no desenvolvimento de soluções de energia renovável. “Mas há espaço para crescer”, sublinhou a comissária europeia, apontando a energia ligada ao vento, com Portugal a albergar o primeiro parque eólico flutuante da Europa continental – com uma capacidade total instalada de 25 MW, o WindFloat Atlantic conseguiu produzir 78GWh de energia em 2022 – e a realizar o seu primeiro leilão offshore.
Para garantir que a Europa mantém esta trajetória ascendente, Kadri Simson anunciou o investimento em três áreas prioritárias, “críticas para a revolução das renováveis”: infraestruturas físicas, legislação e políticas facilitadoras e uma qualificada força de trabalho.
As infraestruturas são um desafio central para a Europa, explicou a comissária no evento Galp Electric Summit – Energy Conference, referindo que uma maior quota de energias renováveis requer maiores e mais digitalizadas estruturas. “A proposta do desenho do mercado da eletricidade europeu fornece indicações de onde investir nas renováveis, de uma forma que complemente as necessidades de infraestruturas.”
Da mesma forma, o despontar de um ecossistema de hidrogénio requer o desenho de uma infraestrutura de base, algo que estará a ser planeado, nomeadamente um plano que estruture o consumo, desenvolvimento de infraestrutura e desenho do mercado. “O nosso foco é estimular e apoiar o setor privado a investir na produção sustentável de hidrogénio, incluindo as necessárias infraestruturas, através da nossa proposta para um Banco Europeu de Hidrogénio”. Aliás, a Comissão Europeia anunciou no passado mês de março estar a preparar, para o próximo outono, os primeiros leilões-piloto relativos à produção de hidrogénio “verde, os instrumentos financeiros iniciais do Banco Europeu do Hidrogénio, criado para desbloquear investimentos na União Europeia.