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O futuro passa pelo hidrogénio verde

O futuro passa pelo hidrogénio verde

O hidrogénio verde pode tornar-se uma das maiores fontes energéticas na União Europeia e o porto de Sines está no epicentro dessa transição. Responsáveis da administração do porto de Sines,  do Centro de Aceleração Europeia do Hidrogénio Verde e da Galp explicaram os investimentos que estão a fazer.

Há uma nova dinâmica em torno do hidrogénio (H2) verde na União Europeia e a esperança no H2 como combustível da mobilidade verde e nova fonte energética. Se por enquanto representa menos de 2% do consumo de energia e é sobretudo usado em produtos químicos como plásticos e fertilizantes, a verdade é que com a resposta da União Europeia à Rússia, através do REPowerEU, o H2 poderá mesmo tornar-se uma das principais fontes energéticas da União Europeia.

Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, o programa REPowerEU prevê mais do dobro das toneladas de produção de H2 para 2030 face às metas que foram fixadas em 2021.

No painel de debate sobre Hidrogénio Verde do “Outlook 2023: Clean Energy Forum”, Sérgio Machado, head of Hydrogen da Galp, enfatizou os novos objetivos da União Europeia: “Desde 24 de fevereiro [data da invasão de Kiev por Moscovo] algo muito importante aconteceu e que está a lançar o hidrogénio verde como futura garantia de segurança do abastecimento energético europeu. E por isso temos o REPowerEU a multiplicar por três os objetivos para o H2 na Europa: de 7 milhões toneladas por ano para 20 milhões de toneladas por ano em 2030”.

Mas muito terá de acontecer antes, como admitiu. No epicentro desta nova dinâmica energética da Europa está o porto de Sines, no sul de Portugal, onde a Galp planeia transformar a refinaria num hub de hidrogénio verde. “É bom que liguemos Sines e a Península Ibérica ao resto do mundo, mas acho que temos uma grande oportunidade na Península Ibérica: usar o hidrogénio verde mais competitivo da Europa e isso vem do facto de termos a energia solar mais barata da Europa.”

O corredor de H2 em Sines

“É no porto de Sines que se está a conceber um corredor de hidrogénio verde num futuro próximo” que implica um investimento total de mil milhões de euros – incluindo numa fábrica de amónia -, destacou Duarte Lynce de Faria, membro do Conselho Executivo dos Portos de Sines e Autoridade do Algarve.

Tudo isto na lógica do novo plano estratégico dos 3 “D”: “Descarbonizar, digitalizar e diversificar.”

O investimento em H2 no porto de Sines é partilhado com consórcios internacionais como a Madoquapower 2X, o porto de Roterdão e grandes companhias como a Vopak, a Engie e a Shell. “A ideia é ter uma unidade industrial, o eletrolisador, o armazenamento e a capacidade de exportar o hidrogénio verde em navios na forma de gás natural líquido, ou seja, como amónia”, explicou Duarte Lynce de Faria.

“Porque precisamos de um porto como o de Sines para entregar as energias renováveis no futuro no espaço europeu?”, questionou o membro do Conselho Executivo dos Portos de Sines e Autoridade do Algarve.  A resposta é pragmática: “Porque temos navios capazes de carregar gases líquidos para exportar hidrogénio usando a amónia. Este é o ponto de partida. Em segundo lugar, em Sines temos uma vasta área logística e industrial alinhada com os planos do porto. Vamos produzir hidrogénio através das fontes solar, vento e ondas do mar”. Ou seja, estão reunidas as condições essenciais: ter água, ter energia e ter capacidade de armazenamento.

Mas falta investir nas interconexões elétricas, frisou Duarte Lynce de Faria. “Precisamos de redes elétricas para levar a energia renovável da Península Ibérica até Sines, essas interconexões são importantes, e depois temos de garantir que estas renováveis são adicionais, que é nova capacidade energética e não estamos a canibalizar as renováveis que já estão no mercado”.

Sérgio Machado, da Galp, adiantou que o que vai ser feito em Sines é substituir o hidrogénio cinzento pelo H2 verde, o que é possível por haver acesso às energias solar e eólica. “Mas temos de ter esse acesso. Precisamos de 600 a 700 megawatts de eletrolisadores e de mais de mil hectares de instalações de solar e de eólicas e não podemos ter tudo isso à volta de Sines”.

Para reforçar essa capacidade energética, a administração do porto de Sines tem a ideia de usar, a 12 milhas de Sines, “plataformas de vento flutuantes”. Como explicou Duarte Lynce de Faria, “no futuro queremos ter centrais eólicas para produzirem 2 GW por ano, será outra forma de adicionar o vento que precisamos mas não em terra, nas plataformas marítimas”. Referiu, a propósito, um projeto-piloto que está em curso em Viana do Castelo para ter mais plataformas para produzir mais energia solar e para aproveitar a potência do vento, das marés e das ondas do mar.

Já Sérgio Machado, da Galp, acrescentou ainda no debate que o novo “road map” imposto pela Comissão Europeia obriga a que cada navio de carga pague taxas de acordo com a quantidade de energias limpas ou de combustíveis fósseis que vai transportar. “Para nós, o problema será a capacidade de cada porto para fornecer o combustível certo para cada navio.”

Mikel Lasa, Iberia CEO of EIT – InnoEnergy e EGHEAC – European Green Hydrogen Acceleration Center –, sublinhou na sua intervenção “a grande oportunidade de trazer a indústria a Portugal e Espanha porque temos aqui um grande hub de energia. Vamos trabalhar em acelerar as licenças e trazer os talentos.”

Ecossistema europeu de H2

O EGHEAC está empenhado em “mobilizar um ecossistema completo a nível europeu, onde temos 500 indústrias estabelecidas e companhias como a Galp”, afirmou Mikel Lasa.

O especialista do Centro de Aceleração Europeu de Hidrogénio Verde destacou também o facto de grandes marcas do setor automóvel como a Mercedes ou a Scania (fabricante de camiões) estarem interessadas em investir no H2 por quererem vender para os seus clientes um produto totalmente descarbonizado, neste caso os automóveis e camiões.

O EGHEAC tem um projeto que anunciará com propriedade em 2023 mas que envolve empresas do setor alimentar que estão no fim da cadeia de valor interessadas em afirmar que produzem a sua cerveja ou os seus biscoitos sem largar emissões poluentes para a atmosfera. “Quando fazem a análise custo-benefício em utilizar hidrogénio verde, que é um custo 2 a 3% superior, compensa porque estão a descarbonizar 20% das emissões relacionadas com os produtos que fabricam.”

Aço verde: uma matéria-prima descarbonizada

Mikel Lasa, Iberia CEO of EIT – InnoEnergy e EGHEAC – European Green Hydrogen Acceleration Center, adiantou que o Centro de Aceleração de Hidrogénio Verde está também a investir na produção de aço verde e fertilizantes verdes, grandes (e caros) motores da descarbonização industrial. Um dos investimentos do EGHEAC é num projeto de aço verde no Norte da Suécia. “Há uma companhia que vai produzir 3,5 milhões de toneladas de aço verde na Suécia até 2026. É 200 euros mais caro por tonelada do que o aço convencional, mas envolvemos no financiamento companhias que estão interessadas em descarbonizar os seus produtos”, referiu Mikel Lasa. É a mesma estratégia que o EGHEAC usa para o hidrogénio verde.

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