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A economia da transição energética

A economia da transição energética

A primeira crise energética global foi agravada pela invasão da Rússia à Ucrânia. Apesar da evidente dependência dos combustíveis fósseis, o investimento em renováveis continuou a crescer. Especialistas internacionais do setor explicaram no “Outlook 2023: Clean Energy Forum” como se vai operar esta economia da transição e os obstáculos que enfrenta.

A segurança energética e a acessibilidade dos preços de energia irão marcar a próxima fase da transição energética, segundo previsto no último relatório “Energy Transition Outlook” da Wood Mackenzie. Como se atravessa a pior crise energética global da História recente, respondendo às necessidades imediatas por combustíveis fósseis na Europa e no resto do mundo num inverno ameaçador a chegar, cumprindo, ao mesmo tempo, as metas de descarbonização?

O painel sobre a “Economia da Transição Energética” reuniu no “Outlook 2023: Clean Energy Forum”, uma iniciativa do Jornal de Negócios, SÁBADO e CMTV, em parceria com a Galp, os especialistas internacionais Peter Zeniewski, analista do Energy Supply and Investment Outlook, da Agência Internacional de Energia; Lee Hodder, head of Strategy and Chief Sustainability Officer, da Galp; Nelson Lage, presidente da European Energy Network e da ADENE, e António Almeida, Banco Europeu de Investimento (BEI).

Para a Galp, um dos principais players internacionais no mercado das renováveis, o momento geopolítico “é uma oportunidade para acelerar e não para abrandar” na transição energética, como enfatizou no debate Lee Hodder, head of Strategy and Chief Sustainability Officer da companhia. Mas a União Europeia enfrenta um trilema: “Segurança, sustentabilidade e confiabilidade” na produção e distribuição de novas fontes energéticas.

“Esta é a primeira de uma série de crises de energia que provavelmente teremos até chegar à net zero”, afirmou Lee Hodder, referindo-se aos objetivos globais de chegar a um mundo sem emissões poluentes em 2050. “Temos de avançar o mais rápido que pudermos na eletrificação. Companhias como a Galp estão a fazê-lo: atualmente 20% do nosso mix de energia é da eletrificação e mesmo em 2050 será apenas de 50% sendo os outros 50% para os combustíveis limpos.”

Toda a estratégia atual da Galp é baseada na crença de uma transição energética, referiu. Apesar de a companhia continuar a investir em petróleo e gás, olhando para os seus investimentos previstos para o período entre 2021 e 2025 verifica-se que “50% já estão a ser direcionados para os combustíveis limpos, o que é uma quantidade considerável em termos de indústria”.

Segundo Lee Hodder, a Galp “já é o terceiro maior produtor de energia solar na Península Ibérica”. Ambiciona passar dos 1,3 GW de produção atuais para os 4 GW em 2025 e 12 GW em 2030, ou seja, “quase 1000% de crescimento nesta década”. Também é o maior promotor de mobilidade elétrica e fornecedor de rede de carregamento de veículos elétricos e quer tornar-se no “distribuidor mais rápido de energia solar”. “Estamos a falar de instalar 8000 a 9000 centrais na Península Ibérica com painéis fotovoltaicos e capacidade de autoprodução”. Além disso, a companhia “investirá fortemente na próxima década” no hidrogénio verde em Sines para “converter uma refinaria tradicional de petróleo e gás num parque de energias limpas”.

Um pacote do BEI para acelerar

Há duas semanas, o Banco Europeu de Investimento (BEI), o “banco climático da União Europeia”, como o definiu António Almeida, aprovou “um novo pacote que tenciona apoiar uma transição energética mais rápida”. Neste pacote de medidas, está o compromisso de aumentar para mais 30 mil milhões de euros nos próximos cinco anos o nosso financiamento dedicado à energia na União Europeia (UE)”, explicou António Almeida. Para se ter uma ideia do que significa este salto orçamental, na última década o BEI usou 10 mil milhões para financiar o setor da energia na UE.

Mas há mais e novas medidas do BEI para acelerar a transição para energias limpas no espaço dos 27 Estados-membros. Habitualmente, o BEI financiava até 50% dos custos de um projeto de renováveis e agora, chamando à mesa outros bancos comerciais e de desenvolvimento, pode ir “até 75% do custo total, desde que a candidatura apoie os objetivos do REPowerEU”, sublinhou António Almeida. Podem ser projetos de redes energéticas, energias renováveis, infraestrutura de instalação de painéis fotovoltaicos, entre outros.

O plano REPowerEU, a resposta da União Europeia para se libertar do gás natural e de outros combustíveis fósseis russos, assenta sobretudo nas energias renováveis como chave para a independência energética europeia.

No “Energy Supply and Invesment Outlook” da Agência Internacional de Energia (AIE), o último relatório de balanço referia que “serão necessários 65 mil milhões de euros por ano, até 2027, para a União Europeia fazer a transição do gás russo”, lembrou no debate Peter Zeniewski, analista de energia na AIE.

Mas há uma certeza partilhada por todos: a de que a luz no fundo do túnel europeu é renovável e limpa. “A boa notícia é que em 2022 o investimento em energias renováveis continuou a crescer globalmente e vemos muitos sinais positivos numa série de países: os Estados Unidos e o seu Inflaction Reduction Act, a União Europeia e a sua diretiva Fit for 55 e o plano REPowerEU. E ainda o programa GX do Japão, a Índia e a China a adotarem novos objetivos sobre as renováveis”.

Em suma, segundo o analista, “os gastos em energias limpas estão a aumentar e vão duplicar em 2030”. Mas para maior segurança europeia “temos de reduzir a nossa dependência do carvão”, o que implica conseguir financiamentos para que todas as unidades de produção na China e na Índia sejam substituídas por centrais de produção de energias limpas, referiu Zeniewski.

Cooperação entre agências

A economia de transição está dependente de um quadro regulatório estável na UE e no apoio aos investidores privados que estão a apostar no armazenamento da energia solar e na tecnologia das baterias para ultrapassar a intermitência das fontes energéticas renováveis como o sol e o vento. A Galp, por exemplo, “está a desenvolver uma das principais refinarias de lítio na Europa para produzir um produto que poderá trazer valor acrescentado em baterias na Europa”, anunciou Lee Hodder.

Não há tempo para abrandar rumo à independência energética. Se dúvidas houvesse “estamos mesmo a atravessar a pior crise energética da nossa História”, afirmou Nelson Lage, presidente da European Energy Network e da Agência para a Energia (ADENE). “A Europa tem mesmo de fazer um esforço porque importou 40% do gás russo nos últimos seis anos.”

Lage sublinhou que o Velho Continente está a responder com vários programas e medidas, para além do REPowerEU, com os planos nacionais de poupança de energia dos 27 Estados-membros. “A questão não é este inverno, é o próximo.”

Nelson Lage assegura que existe cooperação entre as 24 agências de energia que são membros da European Energy Network. “Se queremos acelerar a transição energética, as agências de energia são críticas para esse trabalho.” E isso significa “acelerar o investimento em energia e na indústria, investir nas famílias e dar-lhes uma resposta rápida às necessidades energéticas e investir nas instituições”, referiu.

Já no “banco climático” da União Europeia, o EIB, as tendências são para o investimento em projetos de energia solar, especificamente na Península Ibérica, e também de hidrogénio verde. “Vemos um grande montante de projetos a serem anunciados, mas não vemos é decisões finais de investimento a serem tomadas. No EIB queremos apoiar o hidrogénio verde. Este ano, financiámos um projeto de uma central de 15 milhões de euros de 100 megawatts para fertilizantes, é um exemplo de um pequeno projeto mas que mostra a nossa vontade porque o hidrogénio verde é um setor chave na transição energética”.

Os especialistas do painel concordam na necessidade de melhorar o quadro legislativo e regulatório das energias limpas na UE para “facilitar a vida aos investidores”, como diz António Almeida mas também para acelerar um caminho que é já incontornável.

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